Reputação e Risco Profissional nas Carreiras e Mercados de Trabalho Artísticos

Reputação e Risco Profissional nas Carreiras e Mercados de Trabalho Artísticos

Nos últimos anos, as profundas modificações produzidas nos "mundos das artes" (Becker, 1982), também chamados "mundos da criatividade" (Caves, 2002; Bryant e Throsby, 2006), têm suscitado muita discussão pelas suas implicações ao nível dos percursos individuais de carreira dos profissionais das artes, dos seus destinos colectivos e das suas modalidades de inserção nas organizações e mercados de trabalho artísticos. A precariedade das carreiras artísticas, a originalidade dos artistas na gestão do risco profissional, saltando de um projecto para outro, não sendo um cenário exclusivo das artes, gera especificidades fortes no interior destes universos de trabalho. Registam-se ainda importantes sinais de investimento inicial na formação específica dos profissionais das artes, de valorização da "hipótese de desenvolver uma actividade criativa e auto-formadora", "nem sempre bem remunerada mas repleta de glamour", dimensões que se mostram determinantes para o não abandono definitivo da profissão (Borges, 2010).

Concretamente, pergunto: como é que este tipo de trabalho dá origem a percursos profissionais específicos? Quais são as suas consequências para a organização colectiva do trabalho e para a dinâmica das trajectórias individuais de carreira? Como é que estas trajectórias se inscrevem nas diferentes organizações culturais? Como é que se constrói a reputação dos artistas? Que dinâmicas de profissionalização e estratégias de autonomização desenvolvem? Quais são as consequências de um maior vínculo da formação às profissões artísticas e à divisão do trabalho no interior dos grupos? Que papel desenvolvem hoje as novas gerações para alterar ou não as formas de socialização e os tipos de trabalho nos mundos das artes?

Estas são as principais questões a que pretendo dar resposta.

Para o fazer, atenderei às inúmeras pesquisas que analisam as reestruturações profissionais, identitárias e organizacionais sentidas nos universos de trabalho artístico. Desde o teatro (Menger, 1997; Borges, 2007 ; Throsby, 2010) à especificidade francesa dos intermitentes do espectáculo (Pilmis, 2007), passando pelos mundos da "nova" música", rap e tecno (Jouvenet, 2007), às orquestras de música barroca (François, 2000), aos percursos dos arquitectos (Blau, 1988; Champy, 1998; Cabral e Borges, 2006), dos músicos de jazz (Coulangeon, 1999; Buscatto, 2007), dos músicos intérpretes (Coulangeon, 2004) e dos bailarinos (Rannou e Roharik, 2006). Mais recentemente, a análise das diferentes estratégias sindicais dos artistas, entre as duas grandes guerras (Grégoire, 2009), dos profissionais engagés contra a guerra (Roussel, 2009), dos "novos trilhos" das práticas artísticas e das políticas culturais públicas (Santos e Pais, 2010). Paralelamente a estes, os estudos sobre os artistas e o trabalho artístico merecem destaque pela comparação destes universos profissionais entre si (Throsby, 2010; Alper e Wassal, 2002) e na sua relação com os mundos produtivos em geral (Ross, 2008).

Por fim, com esta pesquisa, promovo ainda uma discussão em torno das diferentes escalas de análise - micro e macro - que, articuladamente utilizadas, permitem compreender o funcionamento dos mundos das artes e daí retirar os melhores ensinamentos para estudar outros mercados de trabalho, designadamente, a ciência e a medicina, as pescas, o artesanato, a banca, entre outros (Maneschy et al., 2010).

Estatuto: 
Entidade proponente
Financiado: 
Não
Keywords: 

Profissão, Organização, Reputação, Mercado

Nos últimos anos, as profundas modificações produzidas nos "mundos das artes" (Becker, 1982), também chamados "mundos da criatividade" (Caves, 2002; Bryant e Throsby, 2006), têm suscitado muita discussão pelas suas implicações ao nível dos percursos individuais de carreira dos profissionais das artes, dos seus destinos colectivos e das suas modalidades de inserção nas organizações e mercados de trabalho artísticos. A precariedade das carreiras artísticas, a originalidade dos artistas na gestão do risco profissional, saltando de um projecto para outro, não sendo um cenário exclusivo das artes, gera especificidades fortes no interior destes universos de trabalho. Registam-se ainda importantes sinais de investimento inicial na formação específica dos profissionais das artes, de valorização da "hipótese de desenvolver uma actividade criativa e auto-formadora", "nem sempre bem remunerada mas repleta de glamour", dimensões que se mostram determinantes para o não abandono definitivo da profissão (Borges, 2010).

Concretamente, pergunto: como é que este tipo de trabalho dá origem a percursos profissionais específicos? Quais são as suas consequências para a organização colectiva do trabalho e para a dinâmica das trajectórias individuais de carreira? Como é que estas trajectórias se inscrevem nas diferentes organizações culturais? Como é que se constrói a reputação dos artistas? Que dinâmicas de profissionalização e estratégias de autonomização desenvolvem? Quais são as consequências de um maior vínculo da formação às profissões artísticas e à divisão do trabalho no interior dos grupos? Que papel desenvolvem hoje as novas gerações para alterar ou não as formas de socialização e os tipos de trabalho nos mundos das artes?

Estas são as principais questões a que pretendo dar resposta.

Para o fazer, atenderei às inúmeras pesquisas que analisam as reestruturações profissionais, identitárias e organizacionais sentidas nos universos de trabalho artístico. Desde o teatro (Menger, 1997; Borges, 2007 ; Throsby, 2010) à especificidade francesa dos intermitentes do espectáculo (Pilmis, 2007), passando pelos mundos da "nova" música", rap e tecno (Jouvenet, 2007), às orquestras de música barroca (François, 2000), aos percursos dos arquitectos (Blau, 1988; Champy, 1998; Cabral e Borges, 2006), dos músicos de jazz (Coulangeon, 1999; Buscatto, 2007), dos músicos intérpretes (Coulangeon, 2004) e dos bailarinos (Rannou e Roharik, 2006). Mais recentemente, a análise das diferentes estratégias sindicais dos artistas, entre as duas grandes guerras (Grégoire, 2009), dos profissionais engagés contra a guerra (Roussel, 2009), dos "novos trilhos" das práticas artísticas e das políticas culturais públicas (Santos e Pais, 2010). Paralelamente a estes, os estudos sobre os artistas e o trabalho artístico merecem destaque pela comparação destes universos profissionais entre si (Throsby, 2010; Alper e Wassal, 2002) e na sua relação com os mundos produtivos em geral (Ross, 2008).

Por fim, com esta pesquisa, promovo ainda uma discussão em torno das diferentes escalas de análise - micro e macro - que, articuladamente utilizadas, permitem compreender o funcionamento dos mundos das artes e daí retirar os melhores ensinamentos para estudar outros mercados de trabalho, designadamente, a ciência e a medicina, as pescas, o artesanato, a banca, entre outros (Maneschy et al., 2010).

Objectivos: 
Assim, pretendo analisar "os indivíduos a trabalharem em conjunto" (Becker [1982], 2005), mostrar quem faz o quê, as suas missões e a segmentação das mesmas, evidenciando o que aproxima e/ou afasta estes mundos estéticos, de produção e de trabalho dos outros mundos produtivos em geral. <p>O desafio da minha proposta, e a principal contribuição que posso dar para a evolução do estado da arte e para o aprofundamento da análise, passa pela articulação dos contributos da sociologia e da economia da arte e da cultura, do trabalho, das profissões, das organizações e dos mercados. O desafio reside, ainda, no cruzamento de metodologias de análise quantitativas e qualitativas e na <em>démarche</em> comparativa que me leva a analisar o contexto nacional e a sua relação com outros contextos internacionais. </p>
Parceria: 
Não Integrado
Coordenador ICS 
Referência externa 
PROJ55/2010
Data Inicio: 
01/01/2010
Data Fim: 
01/01/2013
Duração: 
36 meses
Concluído