Do preconceito à discriminação: O papel legitimador da percepção de ameaça, da identificação endogrupal e do escopo da justiça
Do preconceito à discriminação: O papel legitimador da percepção de ameaça, da identificação endogrupal e do escopo da justiça
Este projecto focaliza os processos legitimadores que facilitam a passagem do preconceito à discriminação sem que o indivíduo sinta que o seu auto-conceito de pessoa justa e não-preconceituosa seja ameaçado. Propomos analisar a legitimação como um factor-chave que facilita a relação entre o preconceito e a discriminação e que favorece a percepção de um auto-conceito não-preconceituoso no agente de um comportamento discriminatório. De facto, a legitimização é um conceito fundamental para entender a génese das tensões sociais e comportamentos individuais (Zelditch, 2001). Contudo, apenas recentemente a legitimação de atitudes e comportamentos anti-normativos começaram a receber atenção na Psicologia Social (Crandall & Eshleman, 2003; Jost & Banaji, 2001; Sidanius & Pratto, 1999). Especificamente, o papel da legitimação na relação preconceito-discriminação não tem recebido atenção suficiente. Neste sentido, a análise desse papel é especialmente relevante para os entendermos porque a discriminação contra grupos minoritários ainda persiste, apesar das sociedades democráticas terem desenvolvido normas sociais que visam inibir-la. Neste sentido, as nossas investigações anteriores mostraram que a relação entre o preconceito e a discriminação é legitimada por factores justificadores. Mostrámos que a relação entre o preconceito e a oposição à imigração na Europa é mais fortemente mediada pela ameaça realista, enquanto a oposição à naturalização de imigrantes é mediada pela ameaça simbólica (Pereira, Vala, & Costa-Lopes, in press). Estes resultados são consistentes com diversas teorias sobre o preconceito (Gaertner & Dovidio, 2005; Sears & Henry, 2003) e sobre a legitimação das desigualdades sociais (Jost & Banaji, 2001; Sidanius & Pratto, 1999). Essas teorias propõem que quando as pessoas se sentem pressionadas pela norma da anti-discriminação, usam factores justificadores, tais como as percepções de ameaça, antes de agirem de forma discriminatória para que essa acção não seja percebida como discriminatória. Esta interpretação implica aceitar quatro pressupostos básicos: a) as pessoas que legitimam os comportamentos anti-normativos não são avaliadas negativamente; b) as pessoas integraram crenças não preconceituosas no seu auto-conceito e, portanto, precisam de justificar a discriminação para que esse auto-conceito não seja ameaçado; c) as percepções de ameaça são usadas como justificações para discriminar membros do exogrupo; d) as percepções de ameaça são factores justificadores na medida em que são percebidas como normativas. Embora estes pressupostos tenham guiado a interpretação dos resultados da investigação neste domínio, não têm sido directamente testados ou articulados num modelo teórico.
Preconceito e discriminação, Identidade social, Percepção de ameaça, Justiça e legitimação
Este projecto focaliza os processos legitimadores que facilitam a passagem do preconceito à discriminação sem que o indivíduo sinta que o seu auto-conceito de pessoa justa e não-preconceituosa seja ameaçado. Propomos analisar a legitimação como um factor-chave que facilita a relação entre o preconceito e a discriminação e que favorece a percepção de um auto-conceito não-preconceituoso no agente de um comportamento discriminatório. De facto, a legitimização é um conceito fundamental para entender a génese das tensões sociais e comportamentos individuais (Zelditch, 2001). Contudo, apenas recentemente a legitimação de atitudes e comportamentos anti-normativos começaram a receber atenção na Psicologia Social (Crandall & Eshleman, 2003; Jost & Banaji, 2001; Sidanius & Pratto, 1999). Especificamente, o papel da legitimação na relação preconceito-discriminação não tem recebido atenção suficiente. Neste sentido, a análise desse papel é especialmente relevante para os entendermos porque a discriminação contra grupos minoritários ainda persiste, apesar das sociedades democráticas terem desenvolvido normas sociais que visam inibir-la. Neste sentido, as nossas investigações anteriores mostraram que a relação entre o preconceito e a discriminação é legitimada por factores justificadores. Mostrámos que a relação entre o preconceito e a oposição à imigração na Europa é mais fortemente mediada pela ameaça realista, enquanto a oposição à naturalização de imigrantes é mediada pela ameaça simbólica (Pereira, Vala, & Costa-Lopes, in press). Estes resultados são consistentes com diversas teorias sobre o preconceito (Gaertner & Dovidio, 2005; Sears & Henry, 2003) e sobre a legitimação das desigualdades sociais (Jost & Banaji, 2001; Sidanius & Pratto, 1999). Essas teorias propõem que quando as pessoas se sentem pressionadas pela norma da anti-discriminação, usam factores justificadores, tais como as percepções de ameaça, antes de agirem de forma discriminatória para que essa acção não seja percebida como discriminatória. Esta interpretação implica aceitar quatro pressupostos básicos: a) as pessoas que legitimam os comportamentos anti-normativos não são avaliadas negativamente; b) as pessoas integraram crenças não preconceituosas no seu auto-conceito e, portanto, precisam de justificar a discriminação para que esse auto-conceito não seja ameaçado; c) as percepções de ameaça são usadas como justificações para discriminar membros do exogrupo; d) as percepções de ameaça são factores justificadores na medida em que são percebidas como normativas. Embora estes pressupostos tenham guiado a interpretação dos resultados da investigação neste domínio, não têm sido directamente testados ou articulados num modelo teórico.