Memória, esquecimento e pós-colonialismo: representações públicas do Império Colonial Português

Memória, esquecimento e pós-colonialismo: representações públicas do Império Colonial Português

Esta investigação incide sobre as memórias sociais do império colonial português vertidas na esfera pública nacional no período pós-colonial, em especial na cidade de Lisboa que, devido à sua representação histórica enquanto capital do império, adquire neste projecto uma centralidade analítica. Pretende-se analisar de que forma o império continua a fornecer referentes de significação colectiva apesar do fim formal do colonialismo, bem como o papel do império na construção da identidade nacional.

A pesquisa compreende a análise de três dimensões: narrativas articuladas pelos "lugares da memória" do império colonial português; repertórios ou temas mnemónicos privilegiados nos "lugares da memória" seleccionados; agentes representacionais ao serviço da activação da memória pública do império.

A pesquisa será desenvolvida ao longo de quatro anos, através de uma estratégia de estudos de caso, com recurso a pesquisa documental, entrevistas em profundidade e observação directa e participante, e terá uma dimensão comparativa, inserindo-se num projecto mais amplo a desenvolver em colaboração com a Universidade de Manchester com o título Remembering and Forgetting the Empire: a British-Portuguese Comparison.

Estatuto: 
Entidade participante
Financiado: 
Não
Rede: 
x
Keywords: 

Memória, Império, Pós-Colonialismo, Identidade Nacional

Esta investigação incide sobre as memórias sociais do império colonial português vertidas na esfera pública nacional no período pós-colonial, em especial na cidade de Lisboa que, devido à sua representação histórica enquanto capital do império, adquire neste projecto uma centralidade analítica. Pretende-se analisar de que forma o império continua a fornecer referentes de significação colectiva apesar do fim formal do colonialismo, bem como o papel do império na construção da identidade nacional.

A pesquisa compreende a análise de três dimensões: narrativas articuladas pelos "lugares da memória" do império colonial português; repertórios ou temas mnemónicos privilegiados nos "lugares da memória" seleccionados; agentes representacionais ao serviço da activação da memória pública do império.

A pesquisa será desenvolvida ao longo de quatro anos, através de uma estratégia de estudos de caso, com recurso a pesquisa documental, entrevistas em profundidade e observação directa e participante, e terá uma dimensão comparativa, inserindo-se num projecto mais amplo a desenvolver em colaboração com a Universidade de Manchester com o título Remembering and Forgetting the Empire: a British-Portuguese Comparison.

Objectivos: 
Este projecto pressupõe o desenvolvimento de uma investigação em torno das problemáticas da memória, do império e da identidade nacional, privilegiando-se a sua abordagem antropológica. <p>Centrando-se no processo de produção, representação e reprodução da memória do império colonial português na esfera pública nacional no período pós-colonial, com ênfase analítica na cidade de Lisboa, esta investigação tem por objectivo analisar qual o papel que o império desempenha na construção e na manutenção da narrativa identitária nacional no período pós-colonial. </p><p>A pesquisa compreende a identificação, selecção e análise de "lugares" onde a memória do império colonial português se aloja e se verte. Compreende também a investigação de outras duas linhas fundamentais: análise dos repertórios ou temas mnemónicos - recordados e esquecidos - nos "lugares" seleccionados; identificação dos principais agentes implicados na activação desta memória e exploração das respectivas motivações representacionais.  </p>
State of the art: 
Os estudos da mem&oacute;ria social s&atilde;o uma rubrica de investiga&ccedil;&atilde;o que analisa as v&aacute;rias formas pelas quais o passado &eacute; representado no e pelo presente, nas esferas p&uacute;blica ou privada, e de modo consensual ou conflitual. <p>Apesar do conceito de mem&oacute;ria colectiva ter sido cunhado em 1925 por Halbwachs, somente a partir de 1980 se assiste ao desenvolvimento dos estudos dedicados ao tema, na sequ&ecirc;ncia da publica&ccedil;&atilde;o de obras como The Invention of Tradition de Hobsbawm e Ranger (1983). Populariza-se a partir de ent&atilde;o uma abordagem ao estudo da mem&oacute;ria centrada nos usos pol&iacute;ticos do passado para a legitima&ccedil;&atilde;o dos poderes institu&iacute;dos (Misztal, 2003). Esta perspectiva fornece bases te&oacute;ricas especialmente relevantes para a an&aacute;lise do &quot;nexo mem&oacute;ria-na&ccedil;&atilde;o&quot; (Nora, 1984), motivando estudos que analisam como as identidades nacionais s&atilde;o estabelecidas e mantidas atrav&eacute;s de lugares e pr&aacute;ticas, enfatizando a natureza constru&iacute;da das representa&ccedil;&otilde;es colectivas nacionais, seguindo uma perspectiva anal&iacute;tica popularizada com a publica&ccedil;&atilde;o de obras como Imagined Communities (1983) de Benedict Anderson. A produ&ccedil;&atilde;o acad&eacute;mica neste dom&iacute;nio &eacute; vast&iacute;ssima e origin&aacute;ria das mais variadas filia&ccedil;&otilde;es disciplinares, explorando diversos meios e suportes culturais de publicita&ccedil;&atilde;o de vers&otilde;es oficiais dos passados nacionais (Gillis 1994; Smith, 1999). Tamb&eacute;m em Portugal se tem dispensado uma aten&ccedil;&atilde;o &agrave;s representa&ccedil;&otilde;es da identidade nacional, como s&atilde;o exemplos os trabalhos de Leal (2000), Castelo-Branco e Branco (2003) e Sobral (2007). Neste &acirc;mbito, a an&aacute;lise dos mecanismos de articula&ccedil;&atilde;o da mem&oacute;ria e da identidade nacionais na esfera p&uacute;blica tem sido bastante prof&iacute;cua. Uma &aacute;rea de estudo particularmente vibrante concerne ao patrim&oacute;nio e aos museus enquanto suportes ao servi&ccedil;o da constru&ccedil;&atilde;o das identidades nacionais (Kaplan, 1994; Handler e Gable, 1997).</p><p>Mais recentemente, a abordagem das pol&iacute;ticas da mem&oacute;ria tem vindo a ser actualizada de modo a incorporar o conflito e a negocia&ccedil;&atilde;o, numa perspectiva que concebe a multivocalidade das mem&oacute;rias. Embora considerando que as vers&otilde;es p&uacute;blicas dos passados nacionais traduzem sempre as vis&otilde;es das ag&ecirc;ncias do estado, esta perspectiva n&atilde;o se limita &agrave; hegemonia dos discursos dominantes, incorporando discursos alternativos ou laterais, como sejam os emanados por inst&acirc;ncias da sociedade civil ou os contidos nos discursos de diferentes comunidades ou grupos. Esta perspectiva tem proporcionado a abertura de um campo privilegiado para uma abordagem antropol&oacute;gica no &acirc;mbito dos estudos da mem&oacute;ria (Macdonald, 1997). </p><p>As quest&otilde;es de poder e de domina&ccedil;&atilde;o t&ecirc;m sido tamb&eacute;m centrais na an&aacute;lise das mem&oacute;rias coloniais efectuada no &acirc;mbito da cr&iacute;tica p&oacute;s-colonial (Said, 1978; Bhabha, 1994). Embora a maior parte dos estudos se debruce sobre os contextos p&oacute;s-coloniais brit&acirc;nico e franc&ecirc;s (Baucom, 1999; Hargreaves, 2005), a crescente publica&ccedil;&atilde;o de obras que versam sobre as representa&ccedil;&otilde;es sociais do passado colonial portugu&ecirc;s (Bastos, Almeida e Feldman-Bianco, 2002; Ribeiro, 2004 ; Perez, 2006) leva a crer que este &eacute; um dom&iacute;nio de estudo que est&aacute; a emergir. Enfatizando a dimens&atilde;o p&uacute;blica e a multivocalidade dos processos de constru&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica dos passados nacionais, este projecto pretende contribuir para a investiga&ccedil;&atilde;o do lugar do imp&eacute;rio nos discursos p&oacute;s-coloniais acerca da identidade nacional portuguesa.</p>
Parceria: 
Rede Internacional
Coordenador ICS 
Referência externa 
PROJ108/2009
Data Inicio: 
03/01/2009
Data Fim: 
03/03/2012
Duração: 
38 meses
Concluído