Objectivos:
<p>Propõe-se investigar algumas práticas desportivas e alimentares que pretendem a exploração «radical» da aparência do corpo, com o objectivo de compreender e interpretar os seus significados culturais e ancoramentos sociais. O que motiva alguns jovens a optar por determinado tipo de expressões corporais "radicais", muitas vezes enfrentando graves e elevados riscos físicos e sociais? Que configurações de sentido atribuem a esses corpos? Que condições sociais propiciam a sua emergência? Que efeitos produzem a sua assunção? Tais questões far-se-ão a partir de alguns domínios de observação ilustrativos de produções e utilizações juvenis do corpo geralmente consideradas «radicais»: os comportamentos anorécticos e vigorécticos, ou seja, comportamentos caracterizados pela adesão intensiva a regimes dietéticos muitas vezes acompanhados da ingestão de substâncias que prometem o emagrecimento (ex.: diuréticos) ou o aumento da massa muscular (ex.: anabolizantes) e de sobre-exercício físico.</p>
State of the art:
Parte-se da hipótese de que os comportamentos anorécticos e vigorécticos se caracterizam pela hiper-disciplina na aplicação dos regimes corporais que os consubstanciam. Os regimes de restrição alimentar e de prática desportiva corresponderão a investimentos expressivos na imagem corporal, materializando projectos geralmente orientados no sentido da adequação a modelos de corporeidade actualmente dominantes, associados a valores de juventude, saúde, sedução e sucesso. Supõe-se serem modelos de corporeidade, contudo, profundamente clivados por género: teremos modelos apropriados no masculino, conotados com força e tonicidade muscular; e modelos apropriados no feminino, associados à elegância e fragilidade corporal. A concretização desses modelos implica investigar actividades como, respectivamente, a musculação ou as dietas. <br /><br />Tais práticas, apesar de remeterem para modelos de corporeidade normativa, também terão os seus cultores mais ?radicais?, representados por jovens que se excedem na intensidade e frequência com que se aplicam nos regimes mobilizados, desenvolvendo o que designamos de comportamentos hiper-disciplinados. De facto, a concretização de projectos corporais que recorrem a estratégias dietéticas e/ou desportivas, tem vindo a traduzir-se num cada vez maior número de casos identificados com patologias ou perturbações psicossomáticas, associadas a comportamentos obsessivos e compulsivos no sentido da restrição alimentar (anorexia) ou da prática de musculação (vigorexia), com quadros de sintomatologia e de diagnóstico clinicamente definidos. <br /><br />Não é nosso objectivo explicar sociologicamente as ?doenças?, mas compreender as condições objectivas e subjectivas que estarão na base do que designamos de comportamentos anorécticos e vigorécticos. Muito genericamente, entende-se por comportamento anoréctico ou vigoréctico a conduta que se pauta por um conjunto recorrente e intensivo de acções de vigilância, restrição e disciplina corporal, no sentido de atingir um modelo de corporeidade ?ideal? e desejado, em função do qual o indivíduo passa a organizar os seus tempos e práticas quotidianas.