Kupilikula
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No planalto de Mueda, no norte de Moçambique, diz-se que os feiticeiros se alimentam das suas vítimas, por vezes “criando” leões ou transformando-se em leões para devorar, literalmente, a sua carne. Quando o partido FRELIMO, no poder, aderiu ao socialismo, condenou as crenças na feitiçaria e as práticas de contra-feitiçaria dizendo que eram ideias falsas, mas desde que empreendeu a reforma neoliberal, o partido – ainda no poder após três ciclos eleitorais – “tolerou a tradição”, permitindo que a população rural interprete e interaja com os acontecimentos na linguagem da feitiçaria. Agora, quando os leões deambulam pelas aldeias do planalto em busca de presa, os suspeitos de feitiçaria são frequentemente linchados.
Nesta etnografia histórica da feitiçaria, Harry G. West baseia-se numa década de trabalho de campo e conjuga as perspectivas da antropologia e da ciência política para revelar como os habitantes do planalto de Mueda esperam que as autoridades responsáveis vigiem o reino invisível da feitiçaria e deitem por terra ou, como esses habitantes dizem, “kupilikula” os ataques destrutivos dos feiticeiros praticando, elas próprias, uma forma construtiva de contra-feitiçaria. Kupilikula argumenta que, onde as políticas neoliberais fomentaram a divisão social, em vez da segurança e da prosperidade, as populações do planalto usaram, de facto, o discurso da feitiçaria para avaliar e, por vezes, deitar as reformas por terra, apresentando visões alternativas de um mundo transformado.
Prólogo: Provas imateriais | p.17 |
Introdução | p.37 |
Parte I | p.59 |
Capítulo 1 - O povoamento do planalto de Mueda e a criação dos macondes | p.63 |
Capítulo 2 - Provocação e autoridade, dissidência e solidariedade | p.71 |
Capítulo 3 - Carne, poder e satisfação dos apetites | p.79 |
Capítulo 4 - O reino invisível | p.85 |
Capítulo 5 - Visões que curam | p.97 |
Capítulo 6 - Vítimas ou agressores? | p.109 |
Capítulo 7 - Carreiras complicadas | p.115 |
Capítulo 8 - Feitiçaria de construção | p.129 |
Parte II | p.139 |
Capítulo 9 - Conquistadores imaginados | p.147 |
Capítulo 10 - Consumir o trabalho e os seus produtos | p.161 |
Capítulo 11 - O cristianismo e a tradição maconde | p.175 |
Capítulo 12 - Conversa e conversão | p.189 |
Capítulo 13 - Cristãos, pagãos e feitiçaria | p.199 |
Capítulo 14 - Gente da noite | p.207 |
Capítulo 15 - Jogos mortíferos de esconde-esconde | p.221 |
Capítulo 16 - Revolução, ciência e feitiçaria | p.231 |
Capítulo 17 - Reescrevendo a paisagem | p.249 |
Capítulo 18 - A comunalização da feitiçaria | p.261 |
Capítulo 19 - Autodefesa e enriquecimento pessoal | p.269 |
Parte III | p.283 |
Capítulo 20 - O «ressurgimento da tradição» | p.287 |
Capítulo 21 - A reforma neoliberal e a tradição moçambicana | p.295 |
Capítulo 22 - Um reconhecimento limitado | p.303 |
Capítulo 23 - Transcendendo as tradições | p.323 |
Capítulo 24 - Saberes incertos | p.337 |
Capítulo 25 - A sociedade incivil do pós-guerra | p.347 |
Capítulo 26 - Democratização e/do uso da força | p.355 |
Capítulo 27 - Governando na penumbra | p.365 |
Capítulo 28 - Reforma constitucional e suspeita perpétua | p.373 |
Epílogo: Linhas de sucessão | p.385 |
Bibliografia | p.393 |
Índice remissivo | p.419 |
Harry West, professor no Department of Sociology, Philosophy and Anthropology da University of Exeter (UK) e co-director do Centre for Rural Policy Research, http://socialsciences.exeter.ac.uk/sociology/staff/harrywest/