António Manuel Hespanha

António Manuel Hespanha

Estamos de luto com a partida do Prof. António Manuel Hespanha (1945-2019).

Investigador do ICS entre 1988 e 2000, e atualmente seu Investigador Honorário, António Hespanha deixou uma marca indelével na historiografia e na cultura portuguesa. Foi nesse mesmo ano que publicou As Vésperas do Leviathan(1988, depois pela Almedina, em 1994), um livro que revolucionou o entendimento da história institucional e política de Antigo Regime em Portugal e no seu império. Esse verdadeiro terramoto historiográfico teve impacto nas muitas gerações de investigadores por ele formados e que com ele contactaram (e nos grupos de investigação que criou), e ultrapassou em muito as fronteiras portuguesas. Durante este período, também, estabeleceu redes de trabalho muito duradoiras com as academias espanhola, italiana, alemã e francesa. Autor de dezenas de livros e de centenas de artigos, nos últimos anos dedicou-se ao estudo dos imaginários jurídico e políticos do século XIX, suscitando, mais uma vez, novos debates a nível nacional e internacional. 

António Hespanha foi assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (1967-1974), na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (1978-1985), professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1987-1998), e da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, desde a fundação desta. Ensinou também na Universidade Autónoma (1988-1999), na Faculdade de Direito da Universidade de Macau (1990-1999), foi professor convidado da Universidade de Yale, da École des Hautes Études en Sciences Sociales, da Universidade de Berkeley, e em muitas outras universidades no estrangeiro. Era doutor honoris causapela Universidade de Lucerna (Suiça) e pela Universidade Federal de Curitiba (Brasil). 

Entre 1995 e 1998, dirigiu a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, a partir da qual estimulou a renovação dos estudos sobre o império português, contribuindo de forma decisiva para um olhar polifónico sobre a história do império português, no qual todos pudessem ter lugar. Os livros Imbecillitas. As Bem-Aventuranças da inferioridade nas sociedades de Antigo Regime(2010) e Filhos da Terra. Identidades Mestiças nos Confins da Expansão Portuguesa(2018) testemunham, de alguma forma, esse olhar desassombrado, constituindo-se de maneiras diferentes, como imprescindíveis reflexões sobre a identidade portuguesa.

Estas são apenas alguns dos contributos de António Manuel Hespanha, muitos deles contidos também nos estudos de homenagem António Manuel Hespanha. Entre a História e o Direito (2016). Haverá certamente muitas outras oportunidades para recordar o seu percurso académico e cívico, bem como a sua personalidade, com o entusiasmo contagiante que muitos testemunharam, a sua generosidade científica e a sua capacidade, sem paralelo na academia portuguesa, de formar pessoas, professores e investigadores que hoje, em diálogo com ele, são também, de muitas formas, continuadores do seu trabalho.