A Conferência do Grupo de Investigação LIFE terá lugar nos dias 13 e 14 de novembro, no ICS-ULisboa. A chamada para este evento termina no dia 15 de junho. Os resumos (até 200 palavras, em inglês ou português) deverão ser enviados para sofia.aboim@ics.ulisboa.pt e patriciahilario@gmail.com até à data limite. As decisões serão enviadas por correio eletrónico até 15 de julho de 2024.

O conceito de vulnerabilidade tem sido amplamente teorizado nas ciências sociais e tem sido frequentemente discutido no contexto das desigualdades sociais, da redução do risco de catástrofes, das alterações climáticas, da saúde pública e dos estudos de desenvolvimento. Sendo um conceito multidimensional, a vulnerabilidade tem sido fundamental para compreender o impacto de muitas crises globais (como as alterações ambientais, a instabilidade económica ou as epidemias sanitárias) e os danos sociais que causam, ameaçando as oportunidades socioeconómicas e a saúde e o bem-estar das gerações presentes e futuras. Embora seja amplamente utilizado para discutir as desigualdades sociais, o conceito de vulnerabilidade realça a necessidade de prestar atenção às especificidades relacionais e contextuais na abordagem dos problemas sociais. Perante as actuais crises globais e os múltiplos desafios, é essencial analisar a forma como as diferentes sociedades e os diversos grupos sociais compreendem e respondem aos riscos e como estas vulnerabilidades são moldadas por factores socioeconómicos, crenças culturais, normas sociais, dinâmicas de poder e estruturas institucionais.

A Conferência LIFE tem como objetivo criar um espaço de discussão crítica sobre os desafios e oportunidades do estudo de múltiplas vulnerabilidades a partir de diferentes disciplinas e utilizando diferentes metodologias.  A Conferência LIFE pretende estimular o debate sobre abordagens conceptuais e estratégias metodológicas para o estudo aprofundado da vulnerabilidade em diferentes contextos. Embora tenham sido adoptados vários métodos para medir a vulnerabilidade, a dimensão subjectiva do conceito e a ênfase na agência dos grupos vulneráveis têm desafiado as metodologias convencionais e apelado a abordagens inovadoras. No entanto, a forma de estudar a vulnerabilidade tem sido menos debatida nas ciências sociais. As abordagens visuais, criativas, sensoriais e participativas podem ser estrategicamente utilizadas para estudar a vulnerabilidade. Esta discussão é de extrema importância, uma vez que precisamos de repensar e reinventar os métodos que escolhemos para aumentar a riqueza dos dados que recolhemos.

Com isto em mente, encorajamos particularmente os trabalhos que utilizam uma lente interseccional para destacar como a classe, o género, a raça, a idade, a deficiência, a doença e outros factores moldam a vulnerabilidade. Também são bem-vindos artigos que adoptem uma perspetiva de curso de vida para explorar a vulnerabilidade ao longo do tempo e entre gerações, e que contribuam para a nossa compreensão do impacto situado dos desafios globais em diferentes geografias, de Portugal e da Europa aos países de língua portuguesa e às realidades globais. Convidamos trabalhos teóricos e empíricos sobre abordagens conceptuais e metodológicas da vulnerabilidade. Os desafios conceptuais à investigação da vulnerabilidade, os estudos empíricos e sobretudo as inovações metodológicas são prioritários.

Referências:

• Birkmann, J. (Ed.). (2013). Measuring vulnerability to natural hazards: Towards disaster resilient societies. United Nations University Press.
• Chambers, R. (1989). Vulnerabilidade, enfrentamento e política. Boletim do Instituto de Estudos de Desenvolvimento, 20(2), 1-7.
• Marino, E.K. e Faas, A.J. (2020), Is Vulnerability an Outdated Concept? Depois de Sujeitos e Espaços. Annals of Anthropological Practice, 44: 33-46.

Oradores principais:

Ayo Wahlberg: Vulnerabilidades estratificadas

Ayo Wahlberg é professor no Departamento de Antropologia da Universidade de Copenhaga.Trabalha amplamente no domínio dos estudos sociais da (bio)medicina e a sua investigação centrou-se na fitoterapia tradicional (no Vietname e no Reino Unido), nas tecnologias reprodutivas selectivas (na China e na Dinamarca), bem como nas métricas de saúde (em ensaios clínicos e saúde global).Foi o investigador principal de um projeto de 5 anos (2015-2020) intitulado "The Vitality of Disease - Quality of Life in the Making", para o qual recebeu financiamento do Conselho Europeu de Investigação. Este projeto investigou e analisou empiricamente a construção da "qualidade de vida" através de quatro estudos etnográficos concretos de aconselhamento genético, programas de educação de doentes, ensaios clínicos e associações de doentes.Os estudos VITAL centraram-se na forma como o conhecimento sobre a vida com a doença é reunido e mobilizado, por um lado, e como a vida mórbida é negociada e praticada, por outro.É autor de Good Quality - The Routinization of Sperm Banking in China (University of California Press, 2018) e co-editor de Selective Reproduction in the 21st Century (Palgrave Macmillan, 2017).Obteve o seu doutoramento na London School of Economics and Political Science.

Mario Cardano: Confiança nos cuidados de saúde

Mario Cardano é professor catedrático de Métodos Qualitativos para a Investigação Social e Sociologia da Saúde no Departamento de Cultura Política e Sociedade da Universidade de Turim.É também professor adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (Brasil) e do Departamento de Saúde Mental e Saúde Comunitária da Universidade Estadual de Montes Claros (Brasil).A sua investigação tem abordado dois temas que se entrelaçam: a relação entre saúde e sociedade e os métodos e epistemologias da investigação qualitativa.Publicou vários livros e ensaios sobre metodologia qualitativa e Sociologia da Saúde.Desenvolveu uma reflexão destinada a definir e defender a solidez da investigação qualitativa. Além disso, propôs um quadro específico para a investigação qualitativa na teoria da argumentação, que desempenha, na investigação qualitativa, o mesmo papel que a teoria da probabilidade desempenha na investigação quantitativa.Na área da sociologia da saúde, centrou a sua investigação na saúde mental, em particular nas medidas coercivas, e na hesitação vacinal.É membro da direção da Research Network of Sociology of Health and Medicine da European Sociological Association. Obteve o seu doutoramento na Universidade de Trento.

O evento é organizado pelo Grupo de Investigação LIFE e as investigadoras do ICS-ULisboa Sofia Aboim e Ana Patrícia Hilário.

Local do evento: Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, Portugal

Língua: Português e inglês serão as línguas da Conferência LIFE.

Custos: A conferência não tem custos.

Quem pode participar? A Conferência LIFE está aberta a tod@s os interessad@s em debater as vulnerabilidades múltiplas nas ciências sociais. São bem-vindas submissões de estudantes de doutoramento e investigador@s em início de carreira.