A trilhar o seu caminho no Ocidente europeu desde meados dos anos 80, a nova sociologia da infância tem defendido a importância de se considerar a infância como uma construção social, produto contingente do tempo e do espaço, afastando-se das perspectivas que a retratam como realidade biológica ou categoria universal; na mesma linha, sublinha a heterogeneidade interna das condições infantis, que introduzem relevo e diferença num cenário desigual; e reivindica, ainda, o direito que as crianças têm de ser estudadas autonomamente, por direito próprio, o que se traduz metodologicamente na necessidade de a investigação lhes «dar voz». Inspirada em tais princípios, num livro onde a mudança social em Portugal constitui o fio condutor, Cristina Ponte propõe-nos cruzar a infância com os media – relação surpreendentemente pouco explorada na literatura científica. Fazendo uso da sua vasta experiência de pesquisa na área e numa linguagem simultaneamente rigorosa e atractiva, a autora fornece ao leitor criteriosos instrumentos de compreensão da experiência social das crianças na sociedade contemporânea.

Ana Nunes de Almeida, investigadora coordenadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa