Enquanto objecto de saber, a infância surge tardiamente no campo das ciências sociais. É a partir dos finais dos anos 80 (séc.XX) que «as crianças» se tornam alvo do seu olhar e pretexto para as desafiar com outras questões e dilemas. Em Portugal, as ideias fundadoras segundo as quais a infância é uma construção social e as crianças são sujeitos activos e competentes já se pressentem na investigação realizada a partir da década de 90. Inspirando-se nos contributos recentes da sociologia da infância e interrogando-se sobre o papel do jornalismo na construção da realidade, Cristina Ponte guia-nos pela imprensa portuguesa de informação geral (com destaque para o Diário de Notícias e o Público) e procura perceber, entre 1970 e o presente, como e quando as crianças aí são notícia - «matéria sempre periférica entre as periféricas»… A reconstituição deste olhar dá a conhecer ao leitor as imagens diversas sobre a infância que se cruzam na sociedade em que vive e, simultaneamente, permite-lhe descobrir como se fabrica através dos media um discurso hegemónico sobre o mundo das crianças – dando visibilidade a certas dimensões, ocultando e silenciando outras…