Arquivos coloniais nativos: micro-histórias e comparações

Arquivos coloniais nativos: micro-histórias e comparações

Este projeto examinará as práticas nativas de produção, preservação e circulação de documentação escrita e registos arquivísticos em situação colonial, no quadro do império português. Em décadas recentes, o nexo entre poder e conhecimento colonial, expresso através de textos e imagens de arquivo sobre realidades extra-europeias, tem recebido crescente atenção académica. O saber nativo, em contraste, é convencionalmente tratado como tradição oral que adquire apenas forma escrita através das práticas de recolha e transcrição dos europeus. O presente projeto toma estas noções como ponto de partida e expande-as de forma inovadora. Tomamos como hipótese central que a história conjunta do colonialismo europeu (nomeadamente o português) e sua ligação às sociedades nativas deve atender à proliferação de culturas arquivísticas, modos de literacia, e práticas de escrita de base ?indígena?, até hoje quase desconhecidas pela historiografia. O projeto irá inquirir como e porquê se formam e reproduzem culturas nativas de escrita, mediação letrada, e guarda de documentação no contexto de interações coloniais; como se configuram em relação, quer com repertórios culturais e formas de governo propriamente nativos, quer com histórias de colonização, comércio, conquista, evangelização e administração; e considerará enfim os modos como os próprios colonizadores se relacionaram com estas diversas formas culturais ao longo do tempo. Estas questões traduzir-se-ão num grupo de estudos micro-históricos sobre a vida social de documentos coloniais nativos e seus usos políticos, rituais, e sociais em diferentes comunidades de África e Ásia no império português. Cobrindo quase cinco séculos, desde Quinhentos até à década de 1970, a presença portuguesa em Angola, Goa e Timor Leste oferece um contexto privilegiado para investigar, de forma comparada, o significado histórico da formação de arquivos nativos em encontros coloniais. Precedido de um inquérito documental sobre documentação indígena em instituições, o projeto explorará uma seleção de biografias de arquivos nativos produzidos, conservados, ou postos em circulação por comunidades de aldeias na Ásia do Sul (Goa), por reinos nativos no arquipélago Indonésio (Timor Leste), e por chefias africanas (sobados) na África central (Angola e Moçambique). O estudo proporcionará assim uma inovadora leitura histórico-antropológica comparada do colonialismo lusófono e dos seus legados documentais, da perspetiva de diferentes formas culturais nativas de produzir, conservar e circular textos em situação colonial. Através de publicações científicas internacionais, conferências, uma base de dados online, e ensino pós-graduado, o projeto abrirá novos caminhos para reavaliar a importância e colonial e pós-colonial do património documental nativo, criando condições originais para descolonizar os legados do império português e do colonialismo em geral.

 

Estatuto: 
Entidade proponente
Financiado: 
Sim
Entidades: 
Fundação para a Ciência e Tecnologia
Keywords: 

Arquivos, escrita, colonialismo, império português

Este projeto examinará as práticas nativas de produção, preservação e circulação de documentação escrita e registos arquivísticos em situação colonial, no quadro do império português. Em décadas recentes, o nexo entre poder e conhecimento colonial, expresso através de textos e imagens de arquivo sobre realidades extra-europeias, tem recebido crescente atenção académica. O saber nativo, em contraste, é convencionalmente tratado como tradição oral que adquire apenas forma escrita através das práticas de recolha e transcrição dos europeus. O presente projeto toma estas noções como ponto de partida e expande-as de forma inovadora. Tomamos como hipótese central que a história conjunta do colonialismo europeu (nomeadamente o português) e sua ligação às sociedades nativas deve atender à proliferação de culturas arquivísticas, modos de literacia, e práticas de escrita de base ?indígena?, até hoje quase desconhecidas pela historiografia. O projeto irá inquirir como e porquê se formam e reproduzem culturas nativas de escrita, mediação letrada, e guarda de documentação no contexto de interações coloniais; como se configuram em relação, quer com repertórios culturais e formas de governo propriamente nativos, quer com histórias de colonização, comércio, conquista, evangelização e administração; e considerará enfim os modos como os próprios colonizadores se relacionaram com estas diversas formas culturais ao longo do tempo. Estas questões traduzir-se-ão num grupo de estudos micro-históricos sobre a vida social de documentos coloniais nativos e seus usos políticos, rituais, e sociais em diferentes comunidades de África e Ásia no império português. Cobrindo quase cinco séculos, desde Quinhentos até à década de 1970, a presença portuguesa em Angola, Goa e Timor Leste oferece um contexto privilegiado para investigar, de forma comparada, o significado histórico da formação de arquivos nativos em encontros coloniais. Precedido de um inquérito documental sobre documentação indígena em instituições, o projeto explorará uma seleção de biografias de arquivos nativos produzidos, conservados, ou postos em circulação por comunidades de aldeias na Ásia do Sul (Goa), por reinos nativos no arquipélago Indonésio (Timor Leste), e por chefias africanas (sobados) na África central (Angola e Moçambique). O estudo proporcionará assim uma inovadora leitura histórico-antropológica comparada do colonialismo lusófono e dos seus legados documentais, da perspetiva de diferentes formas culturais nativas de produzir, conservar e circular textos em situação colonial. Através de publicações científicas internacionais, conferências, uma base de dados online, e ensino pós-graduado, o projeto abrirá novos caminhos para reavaliar a importância e colonial e pós-colonial do património documental nativo, criando condições originais para descolonizar os legados do império português e do colonialismo em geral.

 

Observações: 
INDICO é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto “PTDC/HAR-HIS/28577/2017”.
Parceria: 
Não Integrado
Catarina Madeira Santos

INDICO

Coordenador ICS 
Referência externa 
PTDC/HAR-HIS/28577/2017
Data Inicio: 
01/10/2018
Data Fim: 
30/09/2022
Duração: 
48 meses
Concluído