Resistindo ao Plantationoceno: em busca de algumas práticas de contra-domesticação

Seminários GI
Qui . 29 Fev . 11h00
Resistindo ao Plantationoceno: em busca de algumas práticas de contra-domesticação

Na próxima quinta feira, 29 de fevereiro, o Grupo de Investigação Diversidades: Etnografias no Mundo Contemporâneo convida Karen Shiratori, do CES/Universidade de Coimbra e Renato Sztutman, do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo para debater o tema Resistindo ao Plantationoceno: em busca de algumas práticas de contra-domesticação. O evento será transmitido online pelas 11h, através do Zoom.

Uma tese que perpassa a história da filosofia política moderna é a de que há uma ligação especial entre o Estado e a agricultura.Todos os Estados são, por definição, agrícolas, uma ideia que sustenta a revolução neolítica, que tem sido objeto de estudos em arqueologia, história e até mesmo antropologia. O objetivo aqui é discutir duas proposições que surgiram de trabalhos mais ou menos recentes: 1) nem toda agricultura leva à sedentarização e ao Estado; 2) nem toda agricultura é domesticadora, no sentido de produzir uma dependência reprodutiva das plantas em relação ao homem. Essa dependência não se deve à agricultura em si, mas à sua forma intensiva, maximizada no modelo da plantation colonial, que levaria a uma espécie de hiperdomesticação envolvendo o controle de certas espécies de plantas e passando necessariamente pelo controle de corpos e populações, humanas e não humanas. D. Haraway e A. Tsing definiram o Plantationceno como outro nome para o Antropoceno, a era em que os seres humanos estão se tornando uma força incontrolável, ameaçando toda a Terra. Se o Plantationceno é o reino da hiperdomesticação, resistir a ele significaria buscar práticas de contra-domesticação - práticas que sempre foram implementadas pelos povos ameríndios e quilombolas, precisamente aqueles que foram e continuam sendo expulsos de suas terras e subjugados por projetos coloniais e capitalistas. Para dar continuidade a esse ponto, os casos ameríndios serão privilegiados aqui.

Karen Shiratori é antropóloga e membro do Projeto ECO. É doutora em Antropologia Social pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro e pesquisadora do Centro de Estudos Ameríndios (CEstA) e da Unidade Mista de Investigação “Patrimoines locaux, environnement & globalisation” (PALOC-IRD). As suas áreas de especialização são etnologia indígena com foco em xamanismo, organização política e conhecimentos tradicionais sobre agrobiodiversidade. Trabalha com povos de língua Arawá e Tupi Kagwahiva, no sul do Amazonas, Brasil. Desenvolve também investigação sobre políticas públicas e direitos territoriais voltados a povos indígenas em isolamento. Organizou e foi uma das autoras do livro Vozes vegetais: diversidade, resistências e histórias da floresta (Editora UBU, 2021). Recebeu financiamento do EMKP- British Museum em 2022.

Renato Sztutman é professor do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo. É mestre (2000) e doutor (2005) em Antropologia Social pela USP, área de etnologia indígena. Realizou pós-doutorado, em 2015, no Departamento de Filosofia da Universidade de Paris Ouest Nanterre. Coordena atualmente o Centro de Estudos Ameríndios (CEstA-USP). Foi editor responsável, entre 2013 e 2017, da Revista de Antropologia (Depto. de Antropologia da USP). Foi um dos fundadores e co-editou, entre 1997 e 2007, a revista Sexta-Feira. Dentre suas publicações, destacam-se o livro O profeta e o principal: a ação política ameríndia e seus personagens (Edusp/Fapesp, 2012) e a coletânea Eduardo Viveiros de Castro: entrevistas (Azougue, 2008). Seus principais temas de pesquisa são: cosmopolíticas indígenas, fronteiras entre antropologia e filosofia, antropologia e cinema.