A "Religião Pública" numa Sociedade Secular: O Dinamismo Social do Catolicismo Português
A "Religião Pública" numa Sociedade Secular: O Dinamismo Social do Catolicismo Português
Na tentativa de desenvolver alguns instrumentos inovadores para a compreensão das transformações da religião numa sociedade moderna, a pesquisa baseia-se na conhecida diferenciação das esferas sociais em vários subsistemas funcionais tais como a política, economia, ciência, educação, direito, família ou religião. Assim a pesquisa parte do facto empírico de que muitas religiões mostram uma forte tendência em criar técnicas de influência intimamente ligadas aos assuntos da vida social. Esta tentativa da intervenção religiosa na esfera secular de uma sociedade é uma das condições essenciais para que uma religião possa ser designada pública. Terminologicamente pode-se afirmar que uma religião é pública quando está presente em esferas onde se encontram - fora do seu próprio espaço privado - indivíduos ou grupos diversos. A religião pública não corresponde à equiparação clássica entre esfera religiosa e esfera política, mas sim à presença activa, à influência ou à actuação de uma religião numa sociedade moderna, independentemente dos seus vínculos com os poderes estatais. Partindo deste ponto de vista, uma religião é pública quando não defende apenas a liberdade e os direitos próprios, mas sim as liberdades e os direitos gerais numa sociedade moderna. Ela é pública quando questiona ou contesta a autonomia de esferas seculares desligadas de considerações éticas ou morais. E, finalmente, ela é pública quando defende o ‘mundo da vida' tradicional de uma penetração administrativa e jurídica do estado. Ao criar um campo específico das competências nestes três pontos, um sistema religioso pode manter ou restabelecer um papel significante na vida das sociedades modernas. A questão principal seria então: Quais são as condições e as possibilidades de uma religião pública numa sociedade secular, e qual é o seu papel actual na construção social da realidade quotidiana? Para além das suas típicas funções espirituais, as religiões públicas representam novamente um desafio para os poderes políticos, as decisões económicas ou as questões éticas. Assim, religiões públicas pretendem geralmente apresentar competências próprias na vida secular, desenvolvendo um dinamismo típico e formas específicas da comunicação social. Em suma, a primeira parte da pesquisa consiste principalmente em estabelecer um modelo teórico que permite explicar a divisão entre a esfera privada e pública de uma religião e esboçar a relação entre religião e modernidade secular.
A segunda parte da pesquisa consiste na determinação empírica das competências com as quais uma religião pública tenta intervir na construção da realidade de uma sociedade secular, e na observação empírica das transformações intrínsecas de uma religião dentro do processo da modernidade. Tendo em consideração que o catolicismo português esteve confrontado, especialmente no último século, com enormes mudanças sociopolíticas, o mesmo oferece uma excelente possibilidade de estudo que permitiria saber qual o dinamismo social de uma religião pública. A investigação baseia-se na suposição de que o catolicismo português continua a ser capaz de interagir com um mundo social em contínuas transformações, desenvolvendo algumas competências próprias. No caso deste sistema religioso, as suas competências podem ser classificadas, por enquanto, em quatro grupos principais: a) intervenção em questões éticas ou sociais; b) intervenção, correcção ou crítica de decisões políticas ou económicas; c) manutenção das crenças e costumes tradicionais; d) estabilização das identidades nacionais. Procurando instrumentos hermenêuticos para ler e descrever o dinamismo social do catolicismo português, a investigação das actuais competências religiosas poderá facilitar o entendimento, por exemplo, da enorme clivagem na sociedade portuguesa entre a alta percentagem na auto-identificação enquanto católicos (81%) e a baixa prática religiosa.
Contudo, o dinamismo social do catolicismo português não pode ser totalmente abrangido sem reconhecer que as competências estão sempre marcadas por uma certa correlação recíproca com as condições do seu mundo social. Isto é, as circunstâncias do mundo social influenciam também os sistemas religiosos, e uma interacção pode apenas funcionar enquanto o sistema religioso é capaz de reagir às características ou às mudanças da sua realidade social. A reacção activa da Igreja católica às transformações das sociedades modernas começou principalmente nos anos sessenta e é ainda marcada pelo Concílio Vaticano II que iniciou uma viragem da Igreja católica para as realidades económica, política e socialmente múltiplas. O efeito actual desta viragem é uma pluralidade interior do catolicismo. Esta pluralidade interna é promovida pela hierarquia eclesial com o intuito de aumentar a vitalidade religiosa e, em consequência, o dinamismo social do catolicismo. A segunda parte da investigação empírica está ligada à averiguação desta correlação entre a suposta pluralidade interna e o dinamismo social
Religião Pública, Secularização, Catolicismo Português, Religiosidade Popular
Na tentativa de desenvolver alguns instrumentos inovadores para a compreensão das transformações da religião numa sociedade moderna, a pesquisa baseia-se na conhecida diferenciação das esferas sociais em vários subsistemas funcionais tais como a política, economia, ciência, educação, direito, família ou religião. Assim a pesquisa parte do facto empírico de que muitas religiões mostram uma forte tendência em criar técnicas de influência intimamente ligadas aos assuntos da vida social. Esta tentativa da intervenção religiosa na esfera secular de uma sociedade é uma das condições essenciais para que uma religião possa ser designada pública. Terminologicamente pode-se afirmar que uma religião é pública quando está presente em esferas onde se encontram - fora do seu próprio espaço privado - indivíduos ou grupos diversos. A religião pública não corresponde à equiparação clássica entre esfera religiosa e esfera política, mas sim à presença activa, à influência ou à actuação de uma religião numa sociedade moderna, independentemente dos seus vínculos com os poderes estatais. Partindo deste ponto de vista, uma religião é pública quando não defende apenas a liberdade e os direitos próprios, mas sim as liberdades e os direitos gerais numa sociedade moderna. Ela é pública quando questiona ou contesta a autonomia de esferas seculares desligadas de considerações éticas ou morais. E, finalmente, ela é pública quando defende o ‘mundo da vida' tradicional de uma penetração administrativa e jurídica do estado. Ao criar um campo específico das competências nestes três pontos, um sistema religioso pode manter ou restabelecer um papel significante na vida das sociedades modernas. A questão principal seria então: Quais são as condições e as possibilidades de uma religião pública numa sociedade secular, e qual é o seu papel actual na construção social da realidade quotidiana? Para além das suas típicas funções espirituais, as religiões públicas representam novamente um desafio para os poderes políticos, as decisões económicas ou as questões éticas. Assim, religiões públicas pretendem geralmente apresentar competências próprias na vida secular, desenvolvendo um dinamismo típico e formas específicas da comunicação social. Em suma, a primeira parte da pesquisa consiste principalmente em estabelecer um modelo teórico que permite explicar a divisão entre a esfera privada e pública de uma religião e esboçar a relação entre religião e modernidade secular.
A segunda parte da pesquisa consiste na determinação empírica das competências com as quais uma religião pública tenta intervir na construção da realidade de uma sociedade secular, e na observação empírica das transformações intrínsecas de uma religião dentro do processo da modernidade. Tendo em consideração que o catolicismo português esteve confrontado, especialmente no último século, com enormes mudanças sociopolíticas, o mesmo oferece uma excelente possibilidade de estudo que permitiria saber qual o dinamismo social de uma religião pública. A investigação baseia-se na suposição de que o catolicismo português continua a ser capaz de interagir com um mundo social em contínuas transformações, desenvolvendo algumas competências próprias. No caso deste sistema religioso, as suas competências podem ser classificadas, por enquanto, em quatro grupos principais: a) intervenção em questões éticas ou sociais; b) intervenção, correcção ou crítica de decisões políticas ou económicas; c) manutenção das crenças e costumes tradicionais; d) estabilização das identidades nacionais. Procurando instrumentos hermenêuticos para ler e descrever o dinamismo social do catolicismo português, a investigação das actuais competências religiosas poderá facilitar o entendimento, por exemplo, da enorme clivagem na sociedade portuguesa entre a alta percentagem na auto-identificação enquanto católicos (81%) e a baixa prática religiosa.
Contudo, o dinamismo social do catolicismo português não pode ser totalmente abrangido sem reconhecer que as competências estão sempre marcadas por uma certa correlação recíproca com as condições do seu mundo social. Isto é, as circunstâncias do mundo social influenciam também os sistemas religiosos, e uma interacção pode apenas funcionar enquanto o sistema religioso é capaz de reagir às características ou às mudanças da sua realidade social. A reacção activa da Igreja católica às transformações das sociedades modernas começou principalmente nos anos sessenta e é ainda marcada pelo Concílio Vaticano II que iniciou uma viragem da Igreja católica para as realidades económica, política e socialmente múltiplas. O efeito actual desta viragem é uma pluralidade interior do catolicismo. Esta pluralidade interna é promovida pela hierarquia eclesial com o intuito de aumentar a vitalidade religiosa e, em consequência, o dinamismo social do catolicismo. A segunda parte da investigação empírica está ligada à averiguação desta correlação entre a suposta pluralidade interna e o dinamismo social