Procriação e parentalidade em contexto de baixa fecundidade, mudança familiar e crise económica
Procriação e parentalidade em contexto de baixa fecundidade, mudança familiar e crise económica
A fecundidade portuguesa está em declínio desde os anos 70 e no início do século XXI registou-se o acentuar das tendências de adiamento e diminuição de nascimentos. Mas o declínio dramático da fecundidade entre 2010-14, que caiu para níveis lowest-low, deve ser entendido à luz da crise e das medidas de austeridade que vieram deteriorar as condições de vida dos jovens adultos, dificultando a procriação e a constituição da vida familiar. Para além dos efeitos conjunturais, novas orientações normativas face à vida familiar e à parentalidade vieram contribuir para o acentuar destas tendências. Crê-se que a baixa fecundidade se sustenta numa mudança cultural no sentido da valorização de descendências pequenas, influenciada por estilos educativos sentimentalizados e direcionados para o bem-estar e os direitos da criança; novos requisitos da parentalidade responsável, exigente em tempo e recursos; valores e práticas familiares orientadas pela individualização, diversificação e mudança nos papéis de género. A partir da articulação de três áreas do conhecimento -sociologia, demografia e política social- e das abordagens teóricas estruturalista e do curso de vida, o projeto visa três objetivos:
- Analisar o impacto da crise e da mudança familiar nas práticas procriativas e parentais de dois grupos de coortes (1970-74, 1980-84), que foram expostos à crise em diferentes momentos do seu curso de vida. A pesquisa pretende apreender os efeitos da austeridade nas oportunidades destas coortes, em fases específicas da vida, assim como os seus valores parentais, assentes em perspetivas mais individualistas e conflituantes da paternidade/maternidade e da vida familiar;
- Explorar o modo como as variáveis socioestruturais estão a determinar a procriação e a parentalidade nestas coortes. Os comportamentos procriativos, à partida privados e refletindo escolhas individuais, são balizados por condições macro/micro que os moldam para lá das preferências e dos efeitos do ciclo de vida. As assimetrias regionais, assim como as clivagens sociais e de género, também serão analisadas;
- Promover o debate junto de atores políticos e grupos de interesse. O impacto a longo prazo da baixa fecundidade nas famílias e nas sociedades (ex.: o impacto do envelhecimento na coesão social e intergeracional) é uma questão recorrentemente colocada na agenda pública. Nos últimos anos houve um enfoque explícito na natalidade e na parentalidade enquanto áreas chave de intervenção política. Mas as abordagens sociológicas e da política social reclamam a necessidade de ir além de um modelo altamente normativo da parentalidade e de se ter em conta as perspetivas dos jovens adultos, bem como a diversidade de ideais e práticas parentais.
O presente projeto articula metodologias quantitativas, qualitativas e de disseminação, e visa promove um ambiente de trabalho dinâmico e de estreita colaboração entre especialistas nas diferentes áreas do conhecimento e jovens investigadores, propício à sua formação.
Baixa fecundidade, parentalidade, mudança familiar, crise económica
A fecundidade portuguesa está em declínio desde os anos 70 e no início do século XXI registou-se o acentuar das tendências de adiamento e diminuição de nascimentos. Mas o declínio dramático da fecundidade entre 2010-14, que caiu para níveis lowest-low, deve ser entendido à luz da crise e das medidas de austeridade que vieram deteriorar as condições de vida dos jovens adultos, dificultando a procriação e a constituição da vida familiar. Para além dos efeitos conjunturais, novas orientações normativas face à vida familiar e à parentalidade vieram contribuir para o acentuar destas tendências. Crê-se que a baixa fecundidade se sustenta numa mudança cultural no sentido da valorização de descendências pequenas, influenciada por estilos educativos sentimentalizados e direcionados para o bem-estar e os direitos da criança; novos requisitos da parentalidade responsável, exigente em tempo e recursos; valores e práticas familiares orientadas pela individualização, diversificação e mudança nos papéis de género. A partir da articulação de três áreas do conhecimento -sociologia, demografia e política social- e das abordagens teóricas estruturalista e do curso de vida, o projeto visa três objetivos:
- Analisar o impacto da crise e da mudança familiar nas práticas procriativas e parentais de dois grupos de coortes (1970-74, 1980-84), que foram expostos à crise em diferentes momentos do seu curso de vida. A pesquisa pretende apreender os efeitos da austeridade nas oportunidades destas coortes, em fases específicas da vida, assim como os seus valores parentais, assentes em perspetivas mais individualistas e conflituantes da paternidade/maternidade e da vida familiar;
- Explorar o modo como as variáveis socioestruturais estão a determinar a procriação e a parentalidade nestas coortes. Os comportamentos procriativos, à partida privados e refletindo escolhas individuais, são balizados por condições macro/micro que os moldam para lá das preferências e dos efeitos do ciclo de vida. As assimetrias regionais, assim como as clivagens sociais e de género, também serão analisadas;
- Promover o debate junto de atores políticos e grupos de interesse. O impacto a longo prazo da baixa fecundidade nas famílias e nas sociedades (ex.: o impacto do envelhecimento na coesão social e intergeracional) é uma questão recorrentemente colocada na agenda pública. Nos últimos anos houve um enfoque explícito na natalidade e na parentalidade enquanto áreas chave de intervenção política. Mas as abordagens sociológicas e da política social reclamam a necessidade de ir além de um modelo altamente normativo da parentalidade e de se ter em conta as perspetivas dos jovens adultos, bem como a diversidade de ideais e práticas parentais.
O presente projeto articula metodologias quantitativas, qualitativas e de disseminação, e visa promove um ambiente de trabalho dinâmico e de estreita colaboração entre especialistas nas diferentes áreas do conhecimento e jovens investigadores, propício à sua formação.