Masculinidades Hegemónicas e Homens na Suécia e na África do Sul: Uma Teorização sobre o Poder e a Mudança

Masculinidades Hegemónicas e Homens na Suécia e na África do Sul: Uma Teorização sobre o Poder e a Mudança

O projecto tem como objectivo aumentar a nossa compreensão de um conceito nuclear nos estudos de género sobre o homem, mais especificamente, a masculinidade hegemónica. O projecto reunirá investigadores envolvidos na teorização e investigação da questão do homem e da masculinidade hegemónica. Estes investigadores irão discutir os seus respectivos resultados, obtidos em estudos desenvolvidos nos diferentes contextos nacionais, o que irá aumentar a nossa compreensão sobre a forma como os homens se relacionam com o poder, como é que o utilizam e como é que isso pode ser alterado. Este projecto considerará os aspectos positivos e negativos do conceito central que é a masculinidade hegemónica, tal como é actualmente utilizado no desenvolvimento de propostas teóricas sobre o homem e a masculinidade. Desenvolvido por Connell (1983; Carrigan et al., 1985) há 25 anos, este conceito continua a ser extremamente influente. Reúne diferentes aspectos: uma hierarquia de masculinidades, um acesso diferenciado dos homens ao poder (em detrimento das mulheres e outros homens), a interacção entre a identidade masculina, os ideais masculinos, o poder e o patriarcado. Influenciado pelas ideias de Gramsci sobre a hegemonia, o conceito mostra que o poder não tem de ser imposto pela violência ou pela demonstração explícita de poder, mas pode ser exercido subtilmente tendo por base o consentimento ou a conivência.

Os investigadores examinarão o conceito no contexto dos dados existentes resultantes das suas pesquisas com o objectivo de realizar uma análise avaliativa e crítica, assim como de contribuir para uma melhor compreensão do poder e identidade masculina em função da especificidade do contexto. A colaboração incidirá particularmente nas alterações de género e na forma como os ideais de comportamento masculino mudam. É amplamente reconhecido que as relações e as identidades de género estão num estado constante de fluxo. Embora existam diferenças contextuais acentuadas entre a Suécia e a África do Sul (por exemplo em relação à pobreza e aos níveis de violência baseada no género), a comparação entre os dois contextos pode ser útil se quisermos compreender os processos de desigualdade de género. O contexto discursivo da igualdade de género em ambientes tão diferentes funciona como um enquadramento importante para o projecto. Estamos interessados em examinar a "hegemonia" (mudanças no poder e identidade masculinos em relação a outros homens e às mulheres) em contextos nacionais que partilham um comprometimento formal no sentido da defesa da igualdade de género, mas que são caracterizados por ordens de género muito diferentes. A Suécia, por exemplo, é caracterizada por níveis relativamente baixos de violência baseada no género, mas por um mercado laboral fortemente diferenciado em função do género. A África do Sul e Moçambique, por outro lado, sofreram grandes mudanças na estrutura de género ao nível da vida pública (em particular no Parlamento, onde quase metade dos deputados e ministros são mulheres), contudo ambos os países apresentam uma ordem de género extremamente desigual. A África do Sul, por exemplo, possui as taxas mais altas de violação do mundo. Nestes contextos, o desafio consiste em analisar a hegemonia dos homens, não apenas para explicar o modo como o poder masculino se traduz em desigualdades de género, mas também para procurar evidências de que estão a ocorrer mudanças na masculinidade que poderão potencialmente facilitar o progresso no sentido da igualdade de género e para compreender o que está a influenciar estes processos.

Procurar compreender a hegemonia masculina ("masculinidade hegemónica") é teoricamente importante, mas também tem importantes consequências para o trabalho aplicado sobre o género. Novas formas de compreender o poder masculino têm o potencial de contribuir para processos em que os homens de modo activo e consciente produzem formas alternativas (e contra-hegemónicas) de masculinidade que explicitamente rejeitam a violência e apoiam o princípio da equidade (de género).

A investigação colaborativa incluirá o contacto entre as respectivas equipas de investigação que proporcionará uma oportunidade para debater questões, discutir e escrever. O encontro entre as equipas não tem como objectivo o começo ou realização de nova investigação (aqui entendida num sentido restrito como recolha de dados), constituindo antes uma possibilidade para se analisar, de formas criativas, o material que já foi produzido nos nossos diferentes projectos.

Estatuto: 
Entidade proponente
Financiado: 
Não
Keywords: 

Masculinidades, Comparação Internacional, Mudança Social, Igualdade de Género

O projecto tem como objectivo aumentar a nossa compreensão de um conceito nuclear nos estudos de género sobre o homem, mais especificamente, a masculinidade hegemónica. O projecto reunirá investigadores envolvidos na teorização e investigação da questão do homem e da masculinidade hegemónica. Estes investigadores irão discutir os seus respectivos resultados, obtidos em estudos desenvolvidos nos diferentes contextos nacionais, o que irá aumentar a nossa compreensão sobre a forma como os homens se relacionam com o poder, como é que o utilizam e como é que isso pode ser alterado. Este projecto considerará os aspectos positivos e negativos do conceito central que é a masculinidade hegemónica, tal como é actualmente utilizado no desenvolvimento de propostas teóricas sobre o homem e a masculinidade. Desenvolvido por Connell (1983; Carrigan et al., 1985) há 25 anos, este conceito continua a ser extremamente influente. Reúne diferentes aspectos: uma hierarquia de masculinidades, um acesso diferenciado dos homens ao poder (em detrimento das mulheres e outros homens), a interacção entre a identidade masculina, os ideais masculinos, o poder e o patriarcado. Influenciado pelas ideias de Gramsci sobre a hegemonia, o conceito mostra que o poder não tem de ser imposto pela violência ou pela demonstração explícita de poder, mas pode ser exercido subtilmente tendo por base o consentimento ou a conivência.

Os investigadores examinarão o conceito no contexto dos dados existentes resultantes das suas pesquisas com o objectivo de realizar uma análise avaliativa e crítica, assim como de contribuir para uma melhor compreensão do poder e identidade masculina em função da especificidade do contexto. A colaboração incidirá particularmente nas alterações de género e na forma como os ideais de comportamento masculino mudam. É amplamente reconhecido que as relações e as identidades de género estão num estado constante de fluxo. Embora existam diferenças contextuais acentuadas entre a Suécia e a África do Sul (por exemplo em relação à pobreza e aos níveis de violência baseada no género), a comparação entre os dois contextos pode ser útil se quisermos compreender os processos de desigualdade de género. O contexto discursivo da igualdade de género em ambientes tão diferentes funciona como um enquadramento importante para o projecto. Estamos interessados em examinar a "hegemonia" (mudanças no poder e identidade masculinos em relação a outros homens e às mulheres) em contextos nacionais que partilham um comprometimento formal no sentido da defesa da igualdade de género, mas que são caracterizados por ordens de género muito diferentes. A Suécia, por exemplo, é caracterizada por níveis relativamente baixos de violência baseada no género, mas por um mercado laboral fortemente diferenciado em função do género. A África do Sul e Moçambique, por outro lado, sofreram grandes mudanças na estrutura de género ao nível da vida pública (em particular no Parlamento, onde quase metade dos deputados e ministros são mulheres), contudo ambos os países apresentam uma ordem de género extremamente desigual. A África do Sul, por exemplo, possui as taxas mais altas de violação do mundo. Nestes contextos, o desafio consiste em analisar a hegemonia dos homens, não apenas para explicar o modo como o poder masculino se traduz em desigualdades de género, mas também para procurar evidências de que estão a ocorrer mudanças na masculinidade que poderão potencialmente facilitar o progresso no sentido da igualdade de género e para compreender o que está a influenciar estes processos.

Procurar compreender a hegemonia masculina ("masculinidade hegemónica") é teoricamente importante, mas também tem importantes consequências para o trabalho aplicado sobre o género. Novas formas de compreender o poder masculino têm o potencial de contribuir para processos em que os homens de modo activo e consciente produzem formas alternativas (e contra-hegemónicas) de masculinidade que explicitamente rejeitam a violência e apoiam o princípio da equidade (de género).

A investigação colaborativa incluirá o contacto entre as respectivas equipas de investigação que proporcionará uma oportunidade para debater questões, discutir e escrever. O encontro entre as equipas não tem como objectivo o começo ou realização de nova investigação (aqui entendida num sentido restrito como recolha de dados), constituindo antes uma possibilidade para se analisar, de formas criativas, o material que já foi produzido nos nossos diferentes projectos.

Objectivos: 
Ao reunir investigadores envolvidos na teorização e investigação do tema do homem e da masculinidade hegemónica em diferentes contextos sociais, o projecto tem como objectivo discutir os conceitos centrais nesta área de investigação e também tentar compreender formas contemporâneas de desigualdade de género. Neste projecto, será examinado o conceito da masculinidade hegemónica no contexto dos dados obtidos em pesquisas anteriores, com o objectivo de se realizar uma análise avaliativa e crítica, assim como de contribuir para uma melhor compreensão do poder e identidade masculina em função da especificidade do contexto. A comparação entre a Suécia e a África do Sul incidirá particularmente na alteração do género e na forma como os ideais do comportamento masculino mudam e enfrentam os desafios resultantes dos processos contemporâneos de globalização.<strong><em></em></strong>
State of the art: 
Since the pioneering feminist and profeminist work of the late 1970s and early 1980s the area of study has been transformed into a huge research field with (at least 10) journals specifically dedicated to publishing research work on men and masculinity and virtually all gender journals now including considerations of men and masculinity (Kimmel, Hearn and Connell, 2005). While research on men has multiplied at an astonishing rate, the field is not characterised by unanimity. There are many areas in which disagreement is evident and there are many concepts which remain contested. <p>The concept of &lsquo;hegemonic masculinity' was created to explain how some men, without obvious recourse to violence or physical power, occupied a hierarchical position in society to the detriment of women and those excluded from power. Hegemonic masculinity was an ideal, a set of values, established by the men in power and this functioned to include and exclude and to organise society in gender unequal ways. While the concept has been taken up in many different fields, it remains controversial. In 2005, Connell and Messerschmidt mounted a defence of the concept though difficulties in using it persist. Among these difficulties are: What is hegemonic masculinity - is it a &lsquo;thing' that organises the gendered lives of men or something that men constantly make in ceaseless masculine performances? How does hegemonic masculinity operate in day to day relations? If hegemonic masculinity is fairly easy to identify in history or in macro sociological analyses, can it be so readily identified in the daily doings of men? And does hegemonic masculinity exist in the same way in all settings? Do all men contribute to the construction of hegemonic masculinity and if so, how? Is it possible to conceptualise of hegemonic masculinity in a gender equitable way or is it necessarily implicated in patriarchy? Connell's theories were intended to provide a set of tools and concepts that could be applicable generally, but as the field has diversified and spread to different contexts, questions about its value continue to develop.</p><p>In the context of gender studies in Southern Africa, Morrell (1998, 2001) introduced the concept of hegemonic masculinity into sociological and historical analyses of men and masculinity. In trying to explain why South Africa was (and is) such a violent society, Morrell examined how colonialism and racial capitalism shaped masculine identities and gender relations. His focus on violence, misogynism, homophobia, social exclusion and male power inclined his analysis to utilize hegemonic masculinity as a synonym for patriarchal power. While he distinguished different race-based hegemonies, this adoption of the concept paid too little attention to: a) the content of hegemonic masculinity; b) shifts within hegemonic masculinity; c) gender transformations. His subsequent work has shifted to examine contemporary gender relations in South Africa, and here his work meets that of Lindegger and Jewkes. Lindegger's work has contributed to debates about the impact of constructions of masculinity on HIV risk behaviour. It is especially through the performance of hegemonic masculinity, and especially the risk behaviours characteristic of it, that men and their sexual partners are put at risk of HIV infection. For this reason, it has been argued that intervention to reduce HIV infection needs to involve a challenge to hegemonic constructions of masculinity. Lindegger's research has been interested in how individual boys and men position themselves in relation to hegemonic norms of masculinity, and the subjectivity of this positioning. It has also been interested in the processes by which young men select other, non-conforming positions in relation to hegemonic masculinity and how in the process they preserve a sense of masculine identity and adequacy, in the face of the power of hegemonic masculinity. This research has also been interested in whether, and how, alternate forms or narratives of masculinity are emerging.&nbsp; Rachel Jewkes, a public health physician, social epidemiologist and ethnographer, has been undertaking research and theorising gender-based violence, for nearly 15 years. During this time she has done research on young men's use of violence against partners and other women, locating it within a theoretical framework of hegemonic masculinity and male expectations of male control of women (Wood &amp; Jewkes 2001). In analysis of a dataset of 1369 men, which has been collected as part of a behavioural intervention trial, she has described associations between different male violent and sexually risky behaviours and shown through the intervention which seeks to transform ideas of masculinity in the course of HIV prevention, that in response to the intervention the identified cluster of male risk taking behaviours change (Jewkes et al in press). Recently she has started qualitative research (together with Morrell and other academics from around the world) to understand men who behave in ways that run counter to ideas of hegemonic masculinity, engaging in caring, gender activism or 'caring' professions, and is exploring the origins of these ideas and behaviours in their life history and reflecting on the extent to which they represent a substantial and more holistic departure in identity from hegemonic masculinity or are better understood as isolated acts of deviance. She is also leading a community-based survey of men and masculinities, with particular reference to gender-based violence, men's health and HIV with a view to exploring epidemiologically childhood antecedents of adult male behaviours and the correlations between different manifestations of gendered male power with each other, as well as health indicators. </p><p>There has been a significant debate in Sweden on the applicability of the concept of hegemonic masculinity. Some of this has been critical of the concept, with growing interest in the concepts of &quot;manliness&quot; and &quot;unmanliness&quot;. This has been especially prominent in some historical studies (Liliequist, 1999; Tjeder, 2003), but less so in contemporary studies (Andersson, 2003). The key work done on the concept of hegemonic masculinity in the Swedish context has been by Nordberg (2001, 2005). The Swedish arm of the research project builds on various Nordic and European research cooperation that Hearn, Balkmar, Pringle and Nordberg have been heavily involved with since the late 1990s. </p><p>Sweden is in a very different place from South Africa, in terms of gender equity. The social democratic &lsquo;setttlement' has been well established for much of the 20th century. The question of men's involvement in gender equality built on this; but it has tended to be framed in terms of equality at work and heterosexual family/fatherhood, rather than questions of age, ethnicity/racism, sexuality, violence. But Sweden is not free from social problems related to masculinity. For example, in the last 10 years or more the issue of men's violence has become relatively high profile public issue. Even though the percentage of women in politics and parliament is high, men continue to dominate some arenas of public life, most obviously business and top management, and gender segregation in employment remains strong. </p><p>Understanding such contradictory processes is useful for understanding more about change in Sweden, when and what happened, how change in different areas of life articulated with each other, and how the agenda for change can be taken forward further, as well as understanding and conceptualising processes of change in South Africa. Sweden can learn from South Africa in a number of areas including intersections of men's gendering and ethnicisation/racialisation, which is still a relatively undeveloped area in Sweden, which in turn will shed light on the intersection of gender and other manifestations of social status/disadvantage. The collaboration would enable reflection on how masculinities in South Africa and Sweden are shaped by cultural and social context and the implications of this for an agenda of change. </p>
Parceria: 
Não Integrado
Coordenador ICS 
Referência externa 
PROJ95/2009
Data Inicio: 
01/10/2009
Data Fim: 
01/12/2011
Duração: 
26 meses
Concluído