Jovens Muçulmanos em Portugal. Religião e Cultura, Mobilidade e Cidadania
Jovens Muçulmanos em Portugal. Religião e Cultura, Mobilidade e Cidadania
Este projecto visa desenvolver o primeiro estudo sobre jovens muçulmanos em Portugal, privilegiando para tal uma perspectiva comparativa com jovens portugueses não-muçulmanos. Os resultados serão interpretados no contexto mais alargado dos estudos sobre jovens muçulmanos e juventude na Europa. Pretende-se determinar a influência tanto do Islão quanto da pertença religiosa nos processos de integração social e socialização política - papel esse que é frequentemente ora negligenciado ora excessivamente enfatizado. Assim, optou-se por estudar dois grupos de jovens muçulmanos sunitas (1. de origem Indiana/ de Moçambique, 2. da Guiné Bissau), a maioria deles cidadãos portugueses. Esta abordagem permite a inclusão não só dos grupos dominantes de muçulmanos em Portugal, mas também das minorias étnicas. A presença muçulmana no Portugal contemporâneo é um fenómeno pós-colonial. À semelhança de outros antigos impérios europeus, em Portugal, a primeira vaga de imigração muculmana ocorreu antes da descolonização e por própositos educacionais - no nosso caso de Moçambique: estudantes solteiros do sexo masculino oriundos de famílias sunitas de origem indiana. A partir do final dos anos 50, quando estes estudantes se inscreveram nas faculdades de direito, economia e medicina lisboenses, até hoje, quando centenas de bangladeshis se encontram quotidianamente na praça central do Martim Moniz, a população muçulmana em Portugal tem aumentado progressivamente.
A vasta maioria dos cerca de 30-40.000 muçulmanos hoje residentes em Portugal são sunitas que, de algum modo, são parte da Comunidade Islâmica de Lisboa, CIL. Embora a CIL seja uma entidade de referência, actuando como um representante tanto formal quanto informal dos sunitas muçulmanos, a vida da comunidade islâmica em Portugal dificilmente poderá ser entendida como unitária. Devido aos constantes fluxos de migrantes, originários de um número crescente de países e culturas, bem como aos surpreendentes processos de construção e institucionalização comunitária, os muçulmanos em Portugal constituem um fenómeno cada vez mais diverso e dinâmico. Todavia, a integração na sociedade portuguesa, a experiência da migração, a vivência enquanto minoria religiosa (e étnica) numa sociedade europeia e numa comunidade islâmica cultural e etnolinguísticamente diversa, afectam tradições culturais e originam não só auto-percepções fluidas como também novos conceitos de espaço, ‘casa', e pertença. Tais mudanças e percepções são largamente dependentes do estatuto legal (temporário, residência ou cidadania), do acesso ao sistema educacional e ao mercado de trabalho, e também do capital social. Dependem, em suma, da oportunidade de fazer uso da participação política e da mobilidade social. Pertença à comunidade e participação em associações (quer primariamente islâmicas quer não) parecem desempenhar um papel importante nestes processos, o qual carece de um exame mais aprofundado.
Debruçando-se sobre a juventude muçulmana, o investigador procura responder à seguinte questão: que função desempenha a religião e o sentimento de pertença comunitário nos processos de integração social (mobilidade social, construção de uma comunidade de pares e convívio/ socialização diária) e socialização política (cidadania activa, participação política, trabalho associativo) entre a "segunda geração" de muçulmanos em Portugal? Adicionalmente, de que modo se reflecte a pertença religiosa nas percepções étnicas, nacionais ou de pertença europeia (percepções de casa, compromisso sócio-político, novos espaços discursivos, mobilidade) entre os jovens muçulmanos? Será que entre os jovens muçulmanos em Portugal também se encontram as actuais tendências de actividade transnacional evidenciadas entre os muçulmanos na Europa (e noutras partes do mundo)?
O projecto destina-se a suprir uma importante lacuna metodológica que permeia a pesquisa sobre muçulmanos em Portugal (e, em parte, também na Europa), designadamente, a ausência de estudos comparativos sobre jovens muçulmanos e não-muçulmanos no contexto de uma sociedade nacional. As atitudes culturais, o eventual compromisso sócio-político e a mobilidade social dos jovens muçulmanos europeus raramente são comparadas com as dos jovens não-muçulmanos (dentro do mesmo espectro de idade, género, classe, nível educacional e origem). Em termos analíticos, esta insuficiência traduz-se frequentemente numa "islamização" excessiva tanto do "objecto de estudo" (os muçulmanos), como do discurso público (e académico). Em suma, quase tudo o que muçulmanos fazem, pensam, afirmam ou negam é amiúde entendido como produto de uma determinação religiosa - o que pode perfeitamente não ser o caso. Consequentemente, aspectos económicos e sociais, de classe, género e nível educacional, o impacto de experiências particulares num contexto histórico específico, assim como semelhanças com não-muçulmanos ou pessoas com uma experiência migratória semelhante são frequentemente negligenciados.
Este projecto visa desenvolver o primeiro estudo sobre jovens muçulmanos em Portugal, privilegiando para tal uma perspectiva comparativa com jovens portugueses não-muçulmanos. Os resultados serão interpretados no contexto mais alargado dos estudos sobre jovens muçulmanos e juventude na Europa. Pretende-se determinar a influência tanto do Islão quanto da pertença religiosa nos processos de integração social e socialização política - papel esse que é frequentemente ora negligenciado ora excessivamente enfatizado. Assim, optou-se por estudar dois grupos de jovens muçulmanos sunitas (1. de origem Indiana/ de Moçambique, 2. da Guiné Bissau), a maioria deles cidadãos portugueses. Esta abordagem permite a inclusão não só dos grupos dominantes de muçulmanos em Portugal, mas também das minorias étnicas. A presença muçulmana no Portugal contemporâneo é um fenómeno pós-colonial. À semelhança de outros antigos impérios europeus, em Portugal, a primeira vaga de imigração muculmana ocorreu antes da descolonização e por própositos educacionais - no nosso caso de Moçambique: estudantes solteiros do sexo masculino oriundos de famílias sunitas de origem indiana. A partir do final dos anos 50, quando estes estudantes se inscreveram nas faculdades de direito, economia e medicina lisboenses, até hoje, quando centenas de bangladeshis se encontram quotidianamente na praça central do Martim Moniz, a população muçulmana em Portugal tem aumentado progressivamente.
A vasta maioria dos cerca de 30-40.000 muçulmanos hoje residentes em Portugal são sunitas que, de algum modo, são parte da Comunidade Islâmica de Lisboa, CIL. Embora a CIL seja uma entidade de referência, actuando como um representante tanto formal quanto informal dos sunitas muçulmanos, a vida da comunidade islâmica em Portugal dificilmente poderá ser entendida como unitária. Devido aos constantes fluxos de migrantes, originários de um número crescente de países e culturas, bem como aos surpreendentes processos de construção e institucionalização comunitária, os muçulmanos em Portugal constituem um fenómeno cada vez mais diverso e dinâmico. Todavia, a integração na sociedade portuguesa, a experiência da migração, a vivência enquanto minoria religiosa (e étnica) numa sociedade europeia e numa comunidade islâmica cultural e etnolinguísticamente diversa, afectam tradições culturais e originam não só auto-percepções fluidas como também novos conceitos de espaço, ‘casa', e pertença. Tais mudanças e percepções são largamente dependentes do estatuto legal (temporário, residência ou cidadania), do acesso ao sistema educacional e ao mercado de trabalho, e também do capital social. Dependem, em suma, da oportunidade de fazer uso da participação política e da mobilidade social. Pertença à comunidade e participação em associações (quer primariamente islâmicas quer não) parecem desempenhar um papel importante nestes processos, o qual carece de um exame mais aprofundado.
Debruçando-se sobre a juventude muçulmana, o investigador procura responder à seguinte questão: que função desempenha a religião e o sentimento de pertença comunitário nos processos de integração social (mobilidade social, construção de uma comunidade de pares e convívio/ socialização diária) e socialização política (cidadania activa, participação política, trabalho associativo) entre a "segunda geração" de muçulmanos em Portugal? Adicionalmente, de que modo se reflecte a pertença religiosa nas percepções étnicas, nacionais ou de pertença europeia (percepções de casa, compromisso sócio-político, novos espaços discursivos, mobilidade) entre os jovens muçulmanos? Será que entre os jovens muçulmanos em Portugal também se encontram as actuais tendências de actividade transnacional evidenciadas entre os muçulmanos na Europa (e noutras partes do mundo)?
O projecto destina-se a suprir uma importante lacuna metodológica que permeia a pesquisa sobre muçulmanos em Portugal (e, em parte, também na Europa), designadamente, a ausência de estudos comparativos sobre jovens muçulmanos e não-muçulmanos no contexto de uma sociedade nacional. As atitudes culturais, o eventual compromisso sócio-político e a mobilidade social dos jovens muçulmanos europeus raramente são comparadas com as dos jovens não-muçulmanos (dentro do mesmo espectro de idade, género, classe, nível educacional e origem). Em termos analíticos, esta insuficiência traduz-se frequentemente numa "islamização" excessiva tanto do "objecto de estudo" (os muçulmanos), como do discurso público (e académico). Em suma, quase tudo o que muçulmanos fazem, pensam, afirmam ou negam é amiúde entendido como produto de uma determinação religiosa - o que pode perfeitamente não ser o caso. Consequentemente, aspectos económicos e sociais, de classe, género e nível educacional, o impacto de experiências particulares num contexto histórico específico, assim como semelhanças com não-muçulmanos ou pessoas com uma experiência migratória semelhante são frequentemente negligenciados.