Desigualdade salarial: o papel da educação, instituições e políticas da empresa
Desigualdade salarial: o papel da educação, instituições e políticas da empresa
A integração de jovens e mulheres no mercado de trabalho português surpreende frequentemente os analistas. As gerações que entram hoje em dia no mercado de trabalho são as mais qualificadas que o país alguma vez formou. No entanto, um quinto dos licenciados com menos de 30 anos aufere o salário mínimo nacional e o recrudescimento do fluxo de emigração é predominantemente composto por jovens altamente qualificados. Igualmente intrigante é o facto de Portugal apresentar uma elevada participação feminina e as mulheres representarem quase 60% dos licenciados em ciências, matemática e computação. No entanto, a disparidade salarial entre homens e mulheres não é particularmente baixa, situando-se em torno da média da OCDE. Este projeto trata as trajetórias no mercado de trabalho ao longo do ciclo de vida, analisando como a progressão salarial é determinada pela interação de escolhas educacionais, instituições do mercado de trabalho (salário mínimo e negociação coletiva) e políticas de recrutamento e remuneração das empresas. Começaremos pela tipificação dos perfis salariais ao longo de três décadas. O nosso objetivo é classificar as profissões, desde as de “rápida progressão” até aos “becos sem saída”, em termos da evolução salarial que proporcionam, mostrando como essa hierarquização evoluiu entre coortes de nascimento. Quantificaremos o impacto da segregação ocupacional sobre a dispersão salarial, num contexto de mudança de perfis ocupacionais e da alta participação feminina na força de trabalho. De seguida, concentrar-nos-emos em jovens e mulheres durante a última década. Partindo dos valores agregados da fuga de cérebros (brain drain) de jovens de Portugal, identificaremos os principais países de destino. Usando dados dos países de destino, abordaremos as questões: Como se reparte a recente fuga de cérebros entre homens e mulheres? Em que trabalham esses jovens portugueses qualificados? Como se compara o seu salário com o de outros imigrantes e nativos no país de destino? De volta a Portugal, analisaremos o impacto causal da feminização de uma profissão no seu salário, principalmente em áreas relacionadas com STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Atualmente, pretende-se motivar as jovens a ingressar em STEM, partindo do princípio que os salários não reagirão à feminização da ocupação. Testaremos esse pressuposto. Combinando dados do mercado de trabalho e educação, exploraremos fontes de variação exógena na taxa de feminização da profissão entre coortes, regiões e ao longo do tempo. Também caracterizaremos os padrões de mobilidade ocupacional, para testar a hipótese de que as mulheres são mais propensas a descer na “escala” ocupacional. De seguida, aprofundaremos o papel das instituições versus forças de mercado na determinação das desigualdades salariais. Após a determinação dos salários na contratação coletiva (CC), as políticas da empresa ajustam os salários às condições da empresa e ao ciclo económico. Os estudos iniciais sobre CC datam de há várias décadas e focaram sobretudo a realidade anglo-saxónica. Atualmente, esta área de investigação reemerge como uma área profícua, conjugando o interesse dos decisores de política económica, a disponibilidade de microdados e a formulação de questões inovadoras com relevância para diferentes países. Desenvolveremos o trabalho recente dos membros da equipa Card e Cardoso acerca da flexibilidade salarial na Europa Continental. Este projeto progride usando dados mais recentes, para comparar diferentes fases do ciclo económico. A análise será baseada sobretudo em modelos empíricos microeconómicos, usando alguns dos dados mais ricos, em termos internacionais: (i) dados empregador-trabalhador cobrindo a população de trabalhadores e empresas; (ii) dados financeiros das empresas; (iii) contratos coletivos de trabalho; (iv) dados do ensino superior cobrindo a população de candidatos, alunos matriculados e licenciados. Impulsionados pela riqueza dessa informação, usaremos sobretudo metodologias de variáveis instrumentais e de regression discontinuity. Esta análise do mercado de trabalho português enquadra-se perfeitamente nos seguintes objetivos da Agenda 2030 da ONU: 10 sobre desigualdades, 4 sobre educação e 5 sobre género. Existe uma preocupação generalizada com a concentração de oportunidades de carreira num conjunto restrito de setores, empresas e trabalhadores, bem como com o aumento da parcela do produto nacional destinado ao capital, em detrimento do trabalho, possivelmente devido à crescente concentração do mercado de produtos e ao declínio da CC (S12, BBK20). Daí tem resultado um apelo ao investimento sustentado em capital humano e a melhores políticas e instituições, que promovam um acesso mais equitativo aos recursos. O foco da nossa proposta é precisamente a relação entre investimento em capital humano, instituições, mercado e desigualdade, partindo da ideia que o aumento das desigualdades ameaça a coesão social.
Contratação coletiva, género, jovens, STEM
A integração de jovens e mulheres no mercado de trabalho português surpreende frequentemente os analistas. As gerações que entram hoje em dia no mercado de trabalho são as mais qualificadas que o país alguma vez formou. No entanto, um quinto dos licenciados com menos de 30 anos aufere o salário mínimo nacional e o recrudescimento do fluxo de emigração é predominantemente composto por jovens altamente qualificados. Igualmente intrigante é o facto de Portugal apresentar uma elevada participação feminina e as mulheres representarem quase 60% dos licenciados em ciências, matemática e computação. No entanto, a disparidade salarial entre homens e mulheres não é particularmente baixa, situando-se em torno da média da OCDE. Este projeto trata as trajetórias no mercado de trabalho ao longo do ciclo de vida, analisando como a progressão salarial é determinada pela interação de escolhas educacionais, instituições do mercado de trabalho (salário mínimo e negociação coletiva) e políticas de recrutamento e remuneração das empresas. Começaremos pela tipificação dos perfis salariais ao longo de três décadas. O nosso objetivo é classificar as profissões, desde as de “rápida progressão” até aos “becos sem saída”, em termos da evolução salarial que proporcionam, mostrando como essa hierarquização evoluiu entre coortes de nascimento. Quantificaremos o impacto da segregação ocupacional sobre a dispersão salarial, num contexto de mudança de perfis ocupacionais e da alta participação feminina na força de trabalho. De seguida, concentrar-nos-emos em jovens e mulheres durante a última década. Partindo dos valores agregados da fuga de cérebros (brain drain) de jovens de Portugal, identificaremos os principais países de destino. Usando dados dos países de destino, abordaremos as questões: Como se reparte a recente fuga de cérebros entre homens e mulheres? Em que trabalham esses jovens portugueses qualificados? Como se compara o seu salário com o de outros imigrantes e nativos no país de destino? De volta a Portugal, analisaremos o impacto causal da feminização de uma profissão no seu salário, principalmente em áreas relacionadas com STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Atualmente, pretende-se motivar as jovens a ingressar em STEM, partindo do princípio que os salários não reagirão à feminização da ocupação. Testaremos esse pressuposto. Combinando dados do mercado de trabalho e educação, exploraremos fontes de variação exógena na taxa de feminização da profissão entre coortes, regiões e ao longo do tempo. Também caracterizaremos os padrões de mobilidade ocupacional, para testar a hipótese de que as mulheres são mais propensas a descer na “escala” ocupacional. De seguida, aprofundaremos o papel das instituições versus forças de mercado na determinação das desigualdades salariais. Após a determinação dos salários na contratação coletiva (CC), as políticas da empresa ajustam os salários às condições da empresa e ao ciclo económico. Os estudos iniciais sobre CC datam de há várias décadas e focaram sobretudo a realidade anglo-saxónica. Atualmente, esta área de investigação reemerge como uma área profícua, conjugando o interesse dos decisores de política económica, a disponibilidade de microdados e a formulação de questões inovadoras com relevância para diferentes países. Desenvolveremos o trabalho recente dos membros da equipa Card e Cardoso acerca da flexibilidade salarial na Europa Continental. Este projeto progride usando dados mais recentes, para comparar diferentes fases do ciclo económico. A análise será baseada sobretudo em modelos empíricos microeconómicos, usando alguns dos dados mais ricos, em termos internacionais: (i) dados empregador-trabalhador cobrindo a população de trabalhadores e empresas; (ii) dados financeiros das empresas; (iii) contratos coletivos de trabalho; (iv) dados do ensino superior cobrindo a população de candidatos, alunos matriculados e licenciados. Impulsionados pela riqueza dessa informação, usaremos sobretudo metodologias de variáveis instrumentais e de regression discontinuity. Esta análise do mercado de trabalho português enquadra-se perfeitamente nos seguintes objetivos da Agenda 2030 da ONU: 10 sobre desigualdades, 4 sobre educação e 5 sobre género. Existe uma preocupação generalizada com a concentração de oportunidades de carreira num conjunto restrito de setores, empresas e trabalhadores, bem como com o aumento da parcela do produto nacional destinado ao capital, em detrimento do trabalho, possivelmente devido à crescente concentração do mercado de produtos e ao declínio da CC (S12, BBK20). Daí tem resultado um apelo ao investimento sustentado em capital humano e a melhores políticas e instituições, que promovam um acesso mais equitativo aos recursos. O foco da nossa proposta é precisamente a relação entre investimento em capital humano, instituições, mercado e desigualdade, partindo da ideia que o aumento das desigualdades ameaça a coesão social.