Objectivos:
The main objectives are to make a study of these conditions and examine how the dietary intake of children and their families is being affected by the current socio-economic constraints (e.g. their strategies to cope with the change of their living conditions).
State of the art:
As desigualdades socioeconómicas são, desde os anos 80, componentes centrais dos estudos levados a cabo pela sociologia da alimentação - que, adotando a perspetiva da sociologia do consumo, incide maioritariamente a sua análise nos aspetos culturais das práticas e do gosto alimentar. Permitem identificar diferentes padrões de consumo que estão organizados de modo desigual de acordo com a posição ocupada pelos indivíduos no espaço social, isto é, conforme o volume e a estrutura dos capitais (e.g. económicos, culturais, sociais) que possuem (Bourdieu, 1979; Bennett et al, 2009). <br />Medidas em termos das diferenças nos rendimentos e nas qualificações, as desigualdades de classe social abrangem grupos ou segmentos sociais mais vulneráveis a situações de pobreza (e.g. privação de bens alimentares) e exclusão social (e.g. dependência das redes de provisão e de apoio comunitárias) (Costa, Almeida e Machado, 2009; Dowler et al, 2011). Para além disso, intersectam outras dimensões das desigualdades, como por exemplo a saúde, cujos problemas (e.g. obesidade) tendem a ser mais elevados nas sociedades com maiores desigualdades de rendimento (Cabral e Silva, 2009).<br />Apesar dos consumos das crianças e dos progenitores alargarem-se a outras redes de provisão (e.g. Estado, mercado ou comunitárias), o fornecimento doméstico de refeições e snacks permanece central na alimentação das famílias (Warde e Martens, 2000). A família representa um espaço privilegiado de partilha de disposições práticas, normas e expetativas sociais que contribuem para a reprodução das estruturas de classe social, ao ponto de serem entendidas como ‘famílias de classe' (Bertaux 1978). Dada a reduzida independência das crianças, as suas escolhas são mediadas pelo controlo parental que, em termos práticos, representa uma negociação da autonomia das crianças tendo em consideração a estrutura de oportunidades definida pelos adultos e a pluralidade de instâncias culturais com as quais interagem durante as refeições ao logo do dia (e.g. escola, restaurante, pastelaria) (Alanen, 2001; Nunes de Almeida, 2011).<br />Embora tenham ocorrido melhorias nas condições de vida dos portugueses, a sociedade portuguesa caracteriza-se por uma reduzida proporção de atividades mais qualificadas e por uma grande desigualdade educativa e nos rendimentos, em particular na componente salarial (Costa, 2012). Na saúde, apesar de ter havido uma redução significativa da mortalidade infantil, os níveis de população com excesso de peso, em particular de crianças, é muito elevado e está frequentemente associado a doenças cardiovasculares. É sobretudo nos grupos com menos rendimentos que a esperança de vida é menor e que há uma maior ocorrência de pessoas obesas, uma situação que poderá intensificar-se com a atual crise (Almeida, 2013; Carmo, 2011). Nos anos mais recentes, o rendimento disponível das famílias decresceu e acentuaram-se as desigualdades a esse nível, produzindo efeitos nos consumos básicos das que têm menor capacidade económica (Mauritti e Martins, 2002). Na alimentação são os agregados em situação de privação material severa que estão a ser mais afetados. Têm-se identificado mudanças na frequência e no tipo de produtos que compram e os apoios sociais (e.g. comparticipação das refeições escolares) têm sido fundamentais para as famílias com maiores vulnerabilidades (Wall et al, 2005).<p> </p>